O Balanced Scored Card no
Sector Público
Por: José Veloso da Costa
Resumo:
O presente trabalho
aborda o Balanced ScoreCard (BSC),
como uma ferramenta do Controlo de Gestão de grande relevância para medição do
desempenho da empresa e que está a ser adaptada ao Sector Público (e Sector
Não-Lucrativos) na perspectiva de criação de valor e promover a eficácia nas
organizações.
A Balanced ScoreCard ou simplesmente BSC é
um meio que permite aos gestores, decisores e dirigentes das organizações ou
instituições fazerem análises prospectivas e, de igual modo, ter uma visão
global da organização, o que é se torna útil para formular ou reformular as
estratégias.
Quanto a metodologia,
recorremos a leituras exploratórias e um breve análise bibliográfica e
documental a artigos científicos, livros e documentos.
Palavras-chave: Balanced ScoreCard,
Eficiência e Sector Público.
Sumário: Introdução; 1. Conceito; 1.2 Perspectivas do BSC; 1.3 A implementação do
BSC; 2. Balanced Scored Card no Sector Público; 2.1 Dificuldades de
implementação; Conclusão; Referências.
Introdução
O Balanced ScoreCard (BSC)
«O Scorecard permite aos
gestores ver a respiração e a totalidade da empresa»
Kaplan e Norton, 1993
O Balanced ScoreCard ou BSC surgiu nos
finais do séc. XX na sequência de interrogações surgidas em torno de um
mecanismo que pudesse servir de guia para futuras acções das empresas, assim
como mudanças na economia e negócios a nível mundial.
Em 1992, o Professor
Robert Kaplan da Universidade de Harvard e David Norton, consultor da zona de
Boston, publicam na Harvard Business
Review (Janeiro-Fevereiro) o artigo
«The Balanced Score Card-Measures that drive performance», apoiados num estudo
que desenvolveram numa empresa, Pinto (2007, 40).
Antes do BSC, as
empresas usavam indicadores financeiros, para avaliarem valores tangíveis como
lucro, cash flow, rentabilidade,
retorno de investimento, património imobiliário, equipamentos, stock, etc. (Silva: 2013, p38).
O BSC deve ser usado
pelos gestores, dirigentes e responsáveis das organizações tenham uma noção
clara dos objectivos preconizados e (re)definir ou corrigir a estratégia
delineada. Em outras palavras, é aproveitarmos a experiência para melhorar o
foco.
A medição e gestão da
performance nas décadas anteriores, baseava-se quase exclusivamente na
informação financeira, não se mostrava adequada a nova realidade das
organizações onde era necessário incorporar valores intangíveis, (Pinto:2007, p37).
Passados
24 anos, o BSC é tido como um meio imprescindível nas lides empresariais no que
toca ao planeamento estratégico das empresas privadas, instituições públicas,
organizações sem fins lucrativos, devido a competitividade inerente a
globalização e aproximação dos mercados, assim como incertezas e ameaças em
relação ao futuro.
1. CONCEITO
O Balanced ScoreCard ou BSC é um painel de
instrumentos que permite ter uma visão panorâmica da empresa[1].
O BSC mostra onde se deve competir, que clientes conquistar e o que é
necessário para fazer criar valor para os mesmos (Ramos & Gonçalves:2002 citados
por Ribeiro: 2005).
Essa definição mostra
o carácter prospectivo da análise, contrariando a análise do desempenho
passado. O termo panorâmico indica que o gestor tem uma visão ampla da
organização e não apenas na parte financeira (lucros, rentabilidade,
rendibilidade, etc).
O BSC também é visto
como uma instrumento de medida para ser o driver
fundamental da actividade, assistindo quer as acções realizadas quer o caminho
pretendido, para coincidir com a missão e os objectivos estratégicos (Carvalho
& Filipe, 2014).
Este inclui
indicadores financeiros e complementa-os com indicadores não financeiros sobre
a satisfação dos clientes, os processos internos, as actividades de inovação e
melhoria da organização, (Silva:2013).
A filosofia do BSC assenta na visão
global da estratégia das organizações, apoiada em quatro perspectivas -
financeira, clientes, processos e aprendizagem e crescimento, nas quais são
fixados indicadores que têm que funcionar de forma integrada (Balanceada)
estabelecendo relações de causa e efeito entre todas perspectivas, (Pinto:2007,
p40).
Na
perspectiva de Costa (2009), o BSC reflecte o equilíbrio entre diversos
elementos. «É gerado a partir da Missão, Valores, Visão e Estratégia da
Organização e constituído por várias componentes relacionadas entre si (Objectivos →Indicadores →Metas →Iniciativas)
fornecendo aos líderes uma ferramenta de gestão com benefícios relevantes na
gestão do seu negócio, nomeadamente:
·
Mobiliza a gestão de topo para a liderança do
projecto de mudança;
·
Clarifica a estratégia de uma forma perceptível e
implementável por todos os membros da organização;
·
Focaliza a organização na execução da estratégia e
na obtenção de sinergias entre os vários níveis e áreas de responsabilidade
funcional.
Ilustração 1 Balanced Scored Card
Fonte: pt.wikipedia.org
Para Silva (2013), o BSC tem como enfoque propor
uma relação causa-efeito entre as áreas estratégicas da organização, bem como
uma vinculação entre o cumprimento dos objectivos estratégicos e os sistemas de
incentivos dos colaboradores.
OBSC
explora o paradigma do mercado (costumer
perspective), o paradigma da organização (internal perspective) e o
paradigma do accionista (financial
perspective), aliado a essa tríade a componente de inovação e aprendizagem
(learning perspective) (Carapeto
& Fonseca, 2014).
1.2 PERSPECTIVAS
DO BSC
De acordo com Pinto
(2007), o BSC tem quatro perspectivas, cada uma
delas relacionada com uma questão estratégica, nomeadamente:
1 – Financeira - «Como deveremos ser vistos
pelos nossos investidores?»
2- Clientes - «Como devemos ser vistos
pelos nossos clientes?»
3- Processos - «Em que processos teremos
de ser excelentes?»
4- Aprendizagem e Crescimento - «Como poderemos desenvolver capacidades de mudança
e de crescimento?»
Para cada uma das
perspectivas supracitadas estão associados indicadores ou drivers que têm como finalidade avaliar o grau de cumprimento dos
objectivos traçados pela organização.
Quadro 1 – As quatro perspectivas do BSC
Perspectiva
|
Elo na cadeia de geração de
valor
|
Conceito a ser perseguido
|
Pergunta crítica
|
Perspectiva financeira
|
Geração de valor aos
mantenedores
|
Define a cadeia lógica pela
qual os ativos intangíveis serão convertidos em valor tangível.
|
Para sustentar financeira
nossa missão, em que devemos nos concentrar?
|
Perspectiva clientes
|
Geração de valor ao aluno
|
Esclarece as condições que
criarão valor para os alunos.
|
Para realizar nossa visão,
como devemos parecer aos olhos de nossos alunos?
|
Perspectiva interna
|
Processos estratégicos
|
Identifica os processos que
transformarão ativos intangíveis em resultados para os clientes e em
resultados financeiros.
|
Para satisfazer nossos
alunos, em que processos operacionais devemos ser excelentes?
|
Perspectiva de aprendizado e
crescimento
|
Ativos intangíveis
|
Determina os ativos
intangíveis a serem alinhados e integrados para criar valor.
|
Como sustentaremos nossa
capacidade de mudar e melhorar?
|
Adaptado de Maurício Garcia - MGAR Gestão e Tecnologia
Educacional
De acordo com Carvalho
& Filipe (2014), o BSC como ferramenta de controlo de gestão permite:
1.
Balanceamento entre desempenho financeiro e não financeiro.
2.
Balanceamento entre medidas externas e internas.
3.
Balanceamento entre o alcançado no passado e as medidas que procuram
predizer o futuro.
4.
Conjunto consistente de medidas que criam base firme para a medição do
progresso e para o estabelecimento de comparações.
5.
Conjunto de medidas únicas que comuniquem a direcção estratégica e
objectivos qualitativos e quantitativos.
6.
Mecanismo para estimular a acção a partir dos resultados do processo de
medição.
7.
Mecanismo que permita rever e aprender com a informação que as medidas
permitem ou propiciam.
Além das 7 funções
que apresentadas no parágrafo anterior, adicionamos a entendimento de Carapeto & Fonseca (2014) que referem-se
ao BSC como sistema de medição de desempenho que serve para: i) Determinar a
posição inicial da empresa; ii) Comunicar a direcção ou o caminho; iii)
Facilitar a aprendizagem e iv) Influenciar comportamentos.
A adopção cada vez
maior do BSC por parte das empresas se prende ao facto de ser um útil
instrumento de medição do funcionamento e desempenho dos vários escalões da
firma, em várias alturas do ano.
1.3 IMPLEMENTAÇÃO
DO BSC
Para abordar a
implementação do BSC nos socorremos a Pinto (2013) que defende que em qualquer
tipo de organização consiste num trabalho de reflexão para indicar três
conceitos fundamentais.
Missão – Porque existimos? Onde estamos?
«O
ponto de partida de qualquer sistema de avaliação do desempenho deve ser uma
declaração clara da missão, dos objectivos e da consequente estratégia da
organização.» (Clarke, 2000).
Valores – Que princípios e crenças nos orientam?
Os
valores são os alicerces em que se sustenta uma organização. Eles representam
as crenças mais profundas demonstradas através do comportamento quotidiano. Os
valores de uma organização são um anúncio aberto sobre o que se espera do
comportamento organizacional.
Visão – Para onde vamos? Qual o nosso destino?
A visão é
uma declaração de intenções que define o posicionamento da organização no
futuro.
A Estratégia
É a
determinação de objectivos básicos de longo prazo de uma empresa e a adopção de
acções adequadas e a afectação de recursos para atingir esses objectivos
(Chandler, 1962).
2. BALANCED SCORECARD NO SECTOR PÚBLICO
É sabido que o BSC
foi criado para o sector privado, porém dadas as tendências da Nova Gestão
Pública e a busca da eficiência para o sector público, começou-se experimentar
esta ferramenta. Contudo, Pinto (2013) alerta que nem todos os conceitos do
BSC, mesmo com linguagem adaptada, podem ser transpostos para os serviços
públicos. Todavia, o tema de maior enfoque actual - o alinhamento tem uma total
aplicabilidade.
O sector público tem
características próprias que o distinguem do privado, a começar pelo ciclo
político, a hierarquia, normas legais estritas e, devido a conjuntura económica
financeira mundial, há a escassez de recursos. Desse modo, no Sector Público e
no Sem Fins Lucrativos, os responsáveis deverão tirar proveito do modelo para
alavancar o desempenho, porquanto o mesmo combina a informação financeira, de
contabilidade de gestão e informações não financeira.
Ao adapta-lo ao
sector público é importante que se altere a perspectiva financeira para a
perspectiva do cliente (utente), dando assim maior destaque no modelo. Daí que
Paul Niven (2003, p27), apresenta três grandes alterações, ao modelo original,
nomeadamente “Missão, Stakeholders,
Finanças/Orçamento, Clientes, Processos Internos e, por fim, Aprendizagem e
Consumo”.
Segundo Silva, a
perspectiva financeira, à partida, é uma das que faz menos sentido, uma vez que
quando aplicada ao sector não-lucrativo ou públicas, falar-se de indicadores
financeiros não parece muito aplicável (2009).
Na Administração
Pública, o BSC potencia a razão principal da sua existência (servir os clientes
e eleitores e não apenas controlar os gastos orçamentais) e permitir a
comunicação aos eleitores e os empregados, dos resultados e dos indutores de
actuação que permitirão atingir os objectivos estratégicos (Kaplan e Norton:1997,
121 citados por Ribeiro, 2009).
Para alguns
especialistas, O BSC ao ser aplicado no Sector Público estimularia a inovação
de processos, eficácia, redesenhar os serviços e da relação entre os stakeholders (responsáveis, funcionários
e cidadãos/clientes).
|
|||||
![]() |
A adaptação do Balanced Scorecard aos Serviços Públicos
e às Organizações Sem Fins Lucrativos implica introduzir algumas modificações
na “geografia” do modelo original, de formas a que o mesmo possa adequar-se às
questões específicas da gestão estratégica destes dois sectores. As principais
alterações são[2]:
·
A
missão desloca-se para o topo do BSC;
·
A
perspectiva clientes sobe na hierarquia do modelo;
·
A
perspectiva financeira não é dispensada;
·
A
perspectiva dos processos internos tem que ser reanalisada;
·
A
perspectiva aprendizagem/crescimento cria os alicerces do BSC;
·
A
estratégia continua a ser o tema central do BSC.
Espera-se que a
adopção do BSC pelas instituições públicas tenha como finalidade alinhar a
estratégia organizacional aos objectivos preconizados e concomitantemente
melhorar a performance da organização. É necessário ter uma visão horizontal
dos processos e deve ser orientado para os cidadãos e empresas.
2.1 DIFICULDADES DE IMPLEMENTAÇÃO
A literatura aponta
que a adaptação do BSC comporta alguns constrangimentos, por esse facto Niven
(2003), aponta dificuldades na implementação do Balanced Scorecard no sector público:
·
Dificuldades na medição dos resultados finais;
·
Encarar os resultados alcançados como veículo de punição;
·
Definição da missão;
·
Dificuldades por parte dos cidadãos em entender os resultados negativos;
·
Legislaturas curtas que interferem na implementação dos sistemas;
·
Cultura visa desconfianças nas soluções empresariais.
·
Existência de menor competitividade, o que dificulta a introdução de
alterações;
·
Limitações técnicas;
·
Limitação da qualificação dos recursos humanos
·
Restrições orçamentais.
Apesar das vantagens
atribuídas ao BSC quer no sector público quer no privado, Carvalho & Filipe
(2014), criticam a desproporcionada ao desempenho retrospectivo como base para
guiar o futuro a seguir a organização, assim como resumir a implementação do
BSC a sistemas métricos e softwares,
em detrimento do compromisso dos colaboradores da empresa ou instituição
pública.
CONCLUSÃO
Desde a sua criação
no fim do século XX, princípios dos anos 90, o Balanced Scorecard se tornou um sistema ou mecanismo de mensuração
do desempenho das organizações não só nos EUA, desde o sector privado, onde
inicialmente surgiu, para o sector público, passando pelas Organizações Sem
Fins Lucrativos e as organizações com fins militares.
A ferramenta em
questão, tornou-se eficaz para avaliar a posição da organização, indicar o
enfoque, determinar áreas importantes ou prioritárias, dinamiza o fluxo da
informação e do know-how, assim como
influencia os comportamentos dos membros da organização, adequando-os às reais
necessidades e aspirações dos clientes ou utentes.
Pelo facto do Balanced Scorecard ser visto como
fundamental para gerir a estratégia, bem como torná-la perceptível e
transmiti-la aos membros da organização. Assim, a sua aplicação no sector
público deve ter resultados positivos, porquanto ajuda a melhorar os níveis de
eficácia, eficiência da Administração Públicos e a definição de objectivos que
vão de encontro as necessidades do cidadão/utente.
Referências
·
CARVALHO,
José Crespo e FILIPE, José Cruz (2014), MANUAL
DE GESTÃO ESTRÉGICA – Conceitos,
Prática e Roteiro, 4ª edição, Sílabo, Lisboa.
·
COSTA,
Ana C.A.,(2009) APLICAÇÃO DA METODOLOGIA
DO BALANCED SCORECARD EM INSTITUIÇÕES DO SECTOR PÚBLICO NÃO LUCRATIVO
- Estudo de Caso Instituto Portalegre,
ISEG, Universidade Técnica de Lisboa (Tese de Mestrado).
·
RIBEIRO,
Nuno B., 2005, O BALANCED SCORECARD E
A SUA APLICAÇÃO ÀS INSTITUIÇÕES DO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO, Universidade do
Minho, Braga (Tese de Mestrado).
·
SILVA, Rui F.P., 2009, O BALANCED SCORECARD APLICADO À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: Um Modelo Aplicável A Uma Instituição De
Ensino Superior, Universidade do Porto (Tese de Mestrado).
·
GARCIA, Maurício, 2006, UM MODELO DE BALANCED SCORECARD APLICADO A INSTITUIÇÕES PRIVADAS
DO ENSINO SUPERIOR, Março de 2006, http//buiatria.org.br
·
SILVA, Eduardo Sá, 2013, Dicionário de Gestão, vidaeconómica, Porto.
·
PINTO, Francisco, 2007, BALANCED SCORECARD –Alinhar Mudanças, Estratégia e Performance
nos Serviços Públicos, Sílabo, Lisboa.
·
PINTO, Francisco, BALANCED SCORECARD –
Adaptações ao Sector Público e às Organizações Privadas Sem Fins Lucrativos, Universidade do Algarve (ESGHT) in www.franciscopinto.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário